segunda-feira, 27 de junho de 2011

Seu Gosto Bom

Não precisa se assustar meu bem. Não vou te devorar, talvez morder e te apertar de forma quase sufocante. Porque eu preciso disso, desse contato extremo e profundo. Posso te esmagar um pouco, amarrotar a sua roupa, e te despentear todo. Você se importa? Eu necessito te cheirar e lamber feito bicho, me envolver nos seus pêlos. Posso? Eu sou assim meu bem. Mas também posso acarinhar as suas costas, suspirar nos seus ouvidos e olhar a sua alma. Entende? Gritar bonito, rir gostoso e saborear seu gosto bom. Me permite?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ontem eu morri

Ontem a vida abusou de mim em diversos aspectos. Zombando da minha cara a cada minuto que se passava. Na tentativa frustrada de te esquecer, vinha um desalmado e me berrava o seu nome. Tentei tapar os ouvidos. Mas o destino, sacana do jeito que é, trouxe junto com o megafone, uma enorme faixa. Eu tentei tapar os olhos, mas e os ouvidos? Não consegui me abster. Segui em frente, o dia tinha que continuar. E doía, claro que doía, mas eu permanecia em pé. A noite chegou na Urca, e trouxe com ela o frio do pólo norte. Além da alma dolorida, os meus ossos gemiam, meus pulmões tremiam e o coração... esse órgão não existia mais. Se quebrou em quatrocentos e vinte e sete pedaços. No ônibus pra casa, me sentei ao lado de uma senhora muito mal humorada e descontente com a vida. Ela era enorme e quase tomava todo o banco. Logo que sentei, ela bufou, me lançou um olhar muito do mal encarado e me empurrou sem dó nem piedade. Como quem dizia: Que merda, sai daqui ou eu te mato. Quase caí. Mas, coloquei o meu ipod, e escutei a Nina Simone, a versão que ela fez pra música "Here comes the sun". Não aguentei, e desabei em lágrimas. Chorei, chorei, chorei, funguei, chorei, funguei de novo. A velha não precisou me matar, pois morri por mim mesma. Era a música que escolhi pra aquele dia, aquele dos meus sonhos. Meus, e não nossos. Esse foi o diagnóstico, ? Mas, mesmo assim me veio lembranças da nossa vida quando era linda, do nosso beijo quando existia, da leveza que o nosso amor me trazia. Ontem eu morri por completo. Hoje apenas espero. To aqui vagando por não sei onde, esperando por doações. Quem sabe um dia, nessa viagem cósmica, eu possa obter um coração forte que não se quebre tão facilmente. Ou, que ao congelar, possa ser cuidado. Deve existir um antídoto que o mantenha aquecido, para que enfim, não se quebre jamais.