Era noite de sexta feira na Lapa, Rio de Janeiro, ela estava meio perdida e um pouco altinha por ter bebido mais do que o normal. Mas era sexta, então não se importava muito. Encontrou depois de anos, aproximadamente uns 8 anos, alguns amigos da pré-adolescência. Estava feliz em revê-los depois de tantos anos passados. Agora, pela primeira vez, bebia na presença deles. Mais que bebia, compartilhava a mesma bebedeira e também o primeiro maço de cigarro . Todos alegres, felizes e com sensação de redescobrimento da amizade antiga e preciosa.
Muitas gargalhadas, gritos, cigarros, fotos, fofocas, pinga, cigarros, raggae e cigarros.
Ela de repende escuta:
- Tia, compra um xicreti aê.
- Oi? ( bêbada e um pouco assustada)
- Me ajuda aê. por favor tia.
- Mas quantos anos você tem menino? ( doce e preocupada)
- Tenho 6.
- Mas já são 1:37 da madrugada. Você devia ta dormindo, meu Deus!
Ela repara o olhar do menino: duas jabuticabas pretas pedindo carinho e atenção. Ela acha que ainda existia uma esperança.. mas era esperança pisada e retorcida.
- Como você se chama?
- Ronald
- Você já comeu hoje, Ronald ?
Fez que não com a cabeça.
- O que você gostaria MUITO de comer agora? Fala que eu compro pra você. Quer um Hambúrguer bem gordão gostosão tudo de bão?
- Eu quero fofura, Tia.
- Oi? Fofura???!!!
- Anham!
Ela reparou que ele falava a verdade, porque enquanto mexia a cabeça pra cima e pra baixo, soltava um sorriso de orelha a orelha e os olhinhos de infância pisada e retorcida estavam resplandecentes.
- Uma fofura aqui pro meu amiguinho Ronald, por favor!
Ele pegou a fofura como se fosse a comida mais impossível e deliciosa. Ela entendeu a felicidade, pois ele era uma criança de 6 anos.. crianças desejam besteiras.
Ela teve que dobrar um pouco os joelhos quando deu um beijo carinhoso na careca do menino que parecia estar radiante por comer a sua tão sonhada fofura.
- Tchau. Vai com Deus Ronald. ( ou pelo menos tente ir, ela pensou.)
Ele se foi, não foi muito difícil ele se perder na multidão da Lapa. Ela agora não o via mais.
Um amigo, o da infância, de 8 anos atrás, bêbado e fumando um cigarro falou:
- Pronto fulana, agora você pode correr pro banheiro e lavar a boca.
Ela via risadas, mas não as ouviam. Ela teve nojo? Ela teve. Mas não sabe exatamente de quem.
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